Candeeiros descalços

Concelho: Não desligar a música



Noite. A chuva intensa fazia-se cair de forma bruta, com vontade de furar a pedra que já mais seria furada. Não tinha direção, no entanto, o seu ponto forte era molhar o desgraçado sentado na beira da ponte da cidade. Com um ar perdido e com as mãos na cabeça fazia-se sentir e arrepiar a mágoa que sentia. O seu choro era sangue de amor e odio por quem o tinha deixado de forma, muito provável, injusta. Já não lhe sobrava forças nem para se levantar e a noite comia-o na escuridão dos candieiros apagados. Um único candieiro iluminava-o. O único, que mais tarde, iria ver a tragédia mergulhada nas águas turvas do rio fundo. Eu sentia a dor. Sentia o que ele sentia. Ele não via mais a luz da sua esperança e apenas via o apagão nas águas que seriam  seu conforto para todo o seu sempre. Eu não conseguia avançar e muito menos queria faze-lo, simplesmente limitava-me a olhar pra aquilo que lhe estava destinado. "Foi agora" e assim pensei. Já não o via mais e quando olho pras águas turvas vejo-o virado para cima, com os olhos fechados e a desaparecer na escura água do rio da cidade, sobre a  ponte dos candieiros descalçados da sua luz. Uma lágrima caiu-me do rosto por sentir tanta dor sem levar uma unica chapada de quem mais amo.


Por vezes, não é um estalo físico que nos doí mais, esquecemo-nos daqueles "estalos" que levamos de quem mais amamos, aqueles que não se sentem por fora mas sim por dentro


RJ99

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