Banho de Lágrimas

Esforçava-se para não mostrar aquilo que estava a sentir aos que o rodeavam, amigos e família, contendo ao máximo cada tentativa de lágrima escorrida, fazendo-se, mais uma vez, querer passar-se por forte, aquilo que nunca foi... Entrou na casa de banho e fechou a porta. Com ela fechada, já pode abrir os olhos e derramar tudo aquilo que tinha para derramar. Despido, meteu-se na banheira e apenas ligou a água fria. Com a seu corpo de baixo da água gelada, foi chorando fundo, arrastando todas aquelas lágrimas que tanto lhe pesavam. Já sem forças, sem mesmo para conseguir estar em pé, escorregou pela banheira, já desgraçado em lágrimas e desfazendo-se, tanto por dentro como por fora, ficando de baixo da água que caia.  A água continuava a cair e a encharcar aquele corpo nu de roupa e de desgraçado que estava. Chorava, chorava, chorava e mais nenhum verbo, se não o "chorar" e "sofrer", fazia-se pertencer aquele pobre ser, que tanto sofria. Ele queria para lá de tirar a sua própria vida, ele desejava nunca ter existido, pedindo, quem sabe a um "Ser", para que o levasse e nada dele deixa-se em terra, aniquilando qualquer memória, qualquer objecto, qualquer significado ou lembrança que pudesse fazer lembrar alguém que aquele "inútil" ser fez-se insistir. Adormeceu por meros minutos. Acordou com a água ainda a cair e com ela levantou-se, desligando-a. Tirou uma toalha e saiu da banheira. Limpou a cara, tentando disfarçar, mais uma vez, as suas lágrimas. Abriu a porta e tudo voltou ao seu "normal". Esforçava-se, novamente, para não mostrar aquilo que estava a sentir aos que o rodeavam, amigos e família, contendo ao máximo cada tentativa de lágrima escorrida, fazendo-se, mais uma vez, querer passar-se por forte, aquilo que nunca foi...

RJ99

2 comentários: